quarta-feira, 29 de maio de 2019

PRECONCEITOS > Mensagens contra o preconceito em Aracaju

 Lambes trazem mensagens contra o preconceito em Aracaju 
Foto: Demétrius Oliveira/G1

Publicado originalmente no site G1 Globo, em 04 de abril de 2019 

Estudantes usam 'lambe-lambes' para combater preconceitos em Aracaju

Portões de casas, muros abandonados e paredes em bares da cidade servem de plano de fundo para a ação.

Por Demétrius Oliveira, G1 SE

Há cerca de três meses ruas e estabelecimentos privados em Aracaju têm recebido uma intervenção artística diferente. Duas estudantes de publicidade estão colando em postes, muros e paredes, cartazes conhecidos como 'lambe-lambe', com mensagens contra diversos tipos de preconceito.

Beatriz Sotero, que é estudante de publicidade e tem 21 anos, disse que ideia surgiu pouco antes das eleições. “Comecei a ver como o discurso de ódio e violência estava crescendo e como as pessoas estavam passando pano por cima das coisas e justificando coisas sem justificativas. Eu achava relevante trazer o debate e é muito mais conversar sobre o assunto, entender o motivo de ‘passar o pano’. A ideia dos lambes veio muito de referências e pelo fato de eu ter feito arquitetura e perceber a importância de levar isso para a cidade”, contou ela.

Com a ideia e parte do projeto, a Beatriz encontrou a Thaissa Tupinambá, que também é estudante de publicidade e tem a mesma idade, e formatou o restante do projeto e toda a ideologia por trás da ação. Neste momento surgiu o 'Pare de Passar Pano'. Imagens que buscam combater o preconceito racial, sexual e estético já foram coladas em alguns pontos da capital. Os muros e postes de Aracaju recebem a ação desde fevereiro deste ano.

Estudantes tiveram a ideia de lambes que trazem mensagens contra o preconceito em Aracaju Foto: Tito Givigi Matos/Divulgação

“As frases na maioria são de coisas que a gente já viu e ouviu. Somos nós mesmos que bancamos, imprimimos e colamos. A primeira vez que a gente colou foi em uma festa de publicidade. Colamos em alguns muros, postes e um portão, mas por conta da pouca iluminação e também com a distração gente não prestou atenção. Mas tiramos fotos e publicamos em um perfil na rede social. Foi aí que começou a ter repercussão”, contou Thaissa Tupinambá, co-idealizadora do projeto.

A ideia, segundo elas, começou tímida e tomou grandes proporções de forma rápida. A resposta das pessoas até agora tem sido muito positiva para elas. O projeto já chegou a diversas partes do país.

“Nossa ideia inicial era colar em lugares públicos para chamar mais atenção. O que nos surpreendeu foi que muita gente do Brasil pediu os lambes e perguntaram como poderiam colar na cidade delas e ficamos sem saber o que fazer porque não imaginávamos que isso iria acontecer. Até uma prefeita de uma cidade no Ceará entrou em contato para colar na cidade dela. Também já fizemos uma segunda leva e estamos colando em locais particulares. Começamos a receber alguns relatos também das pessoas que já passaram por algum tipo de preconceito e estamos pensando em utilizar algumas dessas frases em novos lambes”, disse Thaissa.

Os 'lambe-lambe' são totalmente custeados por elas. As mensagens são coladas com uma mistura de cola líquida e água. E as frases, na maioria, representam coisas que elas já viram ou ouviram.

Lambes trazem mensagens contra o preconceito em Aracaju
Foto: Tito Givigi Matos/Divulgação

A gente sabe que é um assunto que deve ser falado, mas que as pessoas acabam não falando por estarem acostumadas com isso. Achamos que só as pessoas que vivem isso iam se incomodar e se identificar, mas várias pessoas se engajaram com o projeto. Não sabíamos que ia ser tão grande, mas está sendo incrível. (Thaissa Tupinambá)

Além disso, os lambes são uma forma de levar uma discussão para as ruas e gerar conversa em torno do assunto, questionando assim, situações que estão enraizadas na sociedade.

‘A ideia dos lambes foi ser democrático e para várias pessoas terem acesso. Nada mais democrático do que colar nas ruas. Como são bem coloridos a gente pensou também dar uma cor a lugares mais neutros e sem cores. Vemos muito mais propagandas nas ruas do que lambes combatendo algo. A gente sempre busca colar eles juntos para ter uma maior visibilidade’, falou Thaissa.

Elas contam que as mensagens são de situações vistas ou vividas por elas 
Foto: Demétrius Oliveira/G1

Aos sábados e domingos, Thaissa e Beatriz selecionam lugares e iniciam a colagem dos lambes na capital sergipana. Portões de casas, muros abandonados e paredes em bares da cidade servem de plano de fundo para a ação.

“Os lambes são uma maneira de tornar claro o que não pode ser visto mais como natural. Tomar a atitude de fingir que não ouviu ou ‘deixar quieto’ ajuda a naturalizar comportamentos que atingem diariamente a vida de mulheres e da comunidade LGBTQ", disse Beatriz Sotero.

Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário