Legenda das fotos: Nutróloga de Paulinha Abelha fala pela primeira vez sobre tratamento da cantora
Publicado originalmente no site G1 GLOBO SERGIPE, em 1 de abril de 2022
'Ela era uma pessoa saudável’, diz nutróloga de Paulinha Abelha em primeiro pronunciamento após a morte da cantora
Especialista se manifestou um dia depois da divulgação de um parecer médico que descartar a relação de medicamentos com a morte da artista e explicou porque se manteve em silêncio sobre o assunto.
Por g1 SE
Um dia após a divulgação de um parecer médico que descartou a relação de medicamentos com a morte da cantora Paulinha Abelha, em 23 de fevereiro, a nutróloga da artista,falou pela primeira vez sobre a rotina de tratamento que realizava com a cantora. A conclusão do parecer corrobora o que consta na certidão de óbito, que aponta quatro causas da morte: meningoencefalite, hipertensão craniana, insuficiência renal aguda e hepatite, sem apontar o que levou a cantora a este quadro.
"A Paulinha não tinha nenhuma comorbidade de base, ela era esforçada, praticava atividade física junto com a nossa equipe disciplinar. Ela tinha educador físico, nutricionista... Treinar o alimento honesto [a alimentação saudável], era o nosso projeto até dar o próximo passo, que era conseguir o emagrecimento, que não é um processo rápido. É um processo que abrange melhorar a ansiedade, o humor, o sono, estabilizar o ser humano com um todo”, disse Paula Cavalari.
A especialista negou que os remédios administrados para Paulinha tivessem efeitos colaterais sobre o fígado e os rins, apontados em exames com lesionados. “De forma alguma, primeiro porque ela tinha um histórico saudável. Em 15 anos de experiência em qualidade de vida e em tratamentos, nós sabemos exatamente, dentro da ciência, dentro de técnicas cada item e tudo que nós estamos utilizando. Tudo era personalizado e individualizado, de acordo com cada momento, com cada necessidade. E ela não tinha nada, era uma pessoa saudável”.
Um possível aceleramento do processo para a obtenção mais rápida de resultados também foi negado pela nutróloga: “No processo que começamos, a primeira palavra não foi emagrecimento, foi: eu quero ter disposição, ânimo, qualidade de vida e retomar a minha autoestima e amor próprio, que a gente perde quando ganha peso. E o processo segue etapas de reconstruir as deficiências nutricionais, estabilizar o sono com o que a gente faz dentro da ciência, dentro do esforço e do que funciona de verdade”.
Questionada sobre ter ficado em silêncio durante o período de internamento e falecimento da Paulinha e a possível ligação dos medicamentos o agravamento do quadro de saúde da cantora, Cavalari resumiu: “eu sempre estive ao lado dela e da família. O objetivo que nós tínhamos era a cura dela, era o melhor diagnóstico, o melhor tratamento possível que toda a equipe médica trabalha para isso. Como médica eu tenho um código de ética. Eu tenho respeito e fiz um juramento. A gente não pode jamais quebrar o código de sigilo médico e paciente. Então eu optei por permanecer tentando viver esse luto, assim como todos”.
Parecer médico
Um parecer médico, divulgado nesta quinta-feira (31), sobre o que teria motivado a internação da cantora Paulinha Abelha, que morreu em 23 de fevereiro, afirma que as lesões renais apresentadas pela paciente não possuem relação com o uso de medicamentos antes ou durante o período em que ela estava internada.
Exame toxicológico da cantora revelou presença de anfetaminas
O documento, assinado pelo médico Nelson Bruni C. Freitas, contratado de forma particular pela banda, foi baseado na análise dos prontuários médicos e cita que exames (como análise do liquor, líquido encontrado no no cérebro e na medula espinhal) evidenciaram uma infecção no Sistema Nervoso Central e indicam a hipótese diagnóstica de uma meningite não decorrente de intoxicação medicamentosa.
Além disso, o parecer cita que não há elementos para concluir que uma intoxicação alimentar possa ter desencadeado a patologia da paciente. Embora o médico explique que intoxicações alimentares possam causar lesões renais, hepáticas e cerebrais, culminando em alguns casos com o óbito dependendo da gravidade da doença e a virulência do agente patológico, a avaliação é que este não foi o caso de Paulinha.
O que diz o marido de Paulinha
Através da assessoria jurídica da banda, o esposo de Paulinha, Clevinho Santos, disse que dá por encerradas as investigações da causa da morte dela.
“O momento agora é viver o luto, que não se conseguiu em razão dessa angústia por respostas sobre o que causou a morte de Paulinha e várias especulações que saíram na mídia. Agora de forma reservada o que a família quer é descansar um pouco, refletir sobre essa perda precoce é inestimável, e reunir forças para seguir em frente e acima de tudo honrar o legado que Paulinha nos deixou”.
Outros exames
Exames da cantora já haviam sido divulgados pela assessoria jurídica da banda, entre eles um teste toxicológico que testou positivo para anfetaminas, — encontradas em remédio já utilizado pela cantora junto com outros medicamentos para controle do peso — e barbitúricos, possivelmente presentes em sedativos administrados durante a internação de Paulinha.
O resultado de uma biópsia indicou lesão hepática aguda com inflamação e morte das células que formam o fígado, o que poderia ter sido causado pelo uso de medicamentos para emagrecer. Entre eles, um estimulante anfetamínico.
O resultado de um exame que avaliou a situação dos rins da cantora Paulinha Abelha revelou que ela possuía lesões graves.
Internação após turnê
A cantora foi internada em Aracaju em 11 de fevereiro, após sentir dores logo depois de ter chegado à cidade depois de uma turnê com a banda em São Paulo.
Seu quadro se agravou rapidamente. No dia 14, a cantora foi transferida para a UTI; três dias depois, Paulinha entrou em coma. No dia 23, as lesões neurológicas da cantora se agravaram e sua morte encefálica foi confirmada (leia mais detalhes no final da reportagem).
Quem foi Paulinha Abelha
Natural do município de Simão Dias, no interior de Sergipe, Paula de Menezes Nascimento Leça Viana, trabalhou com pai comercializando em feiras livres. Começou a carreira como cantora profissional na banda Panela de Barro, onde fez dupla com o cantor Daniel Diau.
Os dois voltaram a cantar juntos na Calcinha Preta, que também é composta, atualmente, por Silvânia Aquino e Bell Oliver. A história na banda tem idas e vindas, mas começou no final dos anos 90, quando o empresário Gilton Andrade a descobriu. Ao todo, ela gravou 21 CDs e três DVDs.
A cantora foi homenageada na música que leva o seu nome, "Paulinha". Deixou a banda em 2009 para integrar a G.D.Ó. do Forró com Marlus Viana, com quem foi casada. Em 2014, retornou para a Calcinha Preta. Em 2016, Paulinha deixou a banda para formar dupla com a Silvânia Aquino, retornando ao grupo em 2018.
Entre os maiores sucessos de Paulinha e da banda Calcinha Preta estão as músicas: "Você Não Vale Nada", "Furunfa", "Baby doll", "Louca por ti", "Sonho Lindo", "Armadilha", "Paulinha" e "Ainda te amo".
A Calcinha Preta gravou um DVD de 25 anos em fevereiro de 2020 e retornava à rotina de shows após meses sem apresentações por conta da pandemia.
Paulinha Abelha foi voz importante do forró eletrônico
Até a internação de Paulinha, o último compromisso do grupo foi a gravação do podcast Podpah, em São Paulo, no dia 8 de fevereiro.
Veja a cronologia da internação:
11 de fevereiro - A cantora Paulinha Abelha foi hospitalizada em Aracaju depois de chegar de uma turnê com a banda Calcinha Preta em São Paulo. A internação foi para tratar de problemas renais, mas a causa não foi divulgada;
14 de fevereiro - O quadro da cantora se agravou e ela foi transferida para a UTI. A partir daí, passou a fazer diálise;
17 de fevereiro - O boletim médico desse dia informou que Paulinha estava em coma e, por causa da instabilidade neurológica, não tinha condições clínicas suficientes para a transferência. No fim da noite a situação mudou e ela foi transferida para o Hospital Primavera, na Zona Sul de Aracaju, para fazer novos exames renais;
18 de fevereiro - O boletim médico informou que a artista permanecia em coma, clinicamente estável, com quadro de infecção controlado e respirando com o suporte de aparelho. A assessoria da cantora disse ainda que estava descartada a possibilidade de morte cerebral, e que naquela tarde ela passaria por mais uma sessão de hemodiálise. Segundo a assessoria, Paulinha estava sendo submetida a um novo tratamento, que só deveria apresentar resposta em 72 horas. Com relação à transferência para hospital de outro estado, a assessoria informou que não havia previsão de quando poderia acontecer;
19 de fevereiro - No fim da manhã do sábado, novo boletim informava que após a investigação com exames complementares, foi afastada a possibilidade da cantora estar com "doenças infecciosas de interesse epidemiológico para a comunidade". O documento não trouxe mais detalhes sobre quais doenças seriam essas. À noite, os médicos informaram que ela estava intubada e em coma persistente;
20 de fevereiro - Segundo o boletim médico do domingo, a cantora apresentou quadro neurológico grave e permanecia internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ela também continuava em coma e intubada;
21 de fevereiro - na segunda-feira, a artista seguia com quadro neurológico grave, sem sinais de instabilidade hemodinâmica, respirando com a ajuda de aparelhos e necessitando de diálise.
22 de fevereiro- Na terça, de acordo com o boletim, ela permanecia com o quadro neurológico grave inalterado, sem necessidade de medicamentos para ajuste da pressão, respirando com a ajuda de aparelhos e necessitando de hemodiálise para ajuste da função renal. No final da tarde, os médicos que acompanhavam a cantora concederam entrevista coletiva e definiram o estado de coma dela com o nível 3 na Escala de Glasglow, que se caracteriza como o mais profundo.
23 de fevereiro- O último boletim divulgado pelo hospital, no começo da tarde de quarta-feira informou que a cantora permanecia em coma com quadro neurológico grave inalterado, respirando com a ajuda de aparelhos, fazendo hemodiálise e em monitoramento contínuo das disfunções neurológica, renal e hepática. À noite, o hospital emitiu a nota de falecimento.
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com
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