Publicado originalmente no site da revista ISTO É DIHEIRO, em 28/04/22
ONU pede colaboração da Rússia para apurar crimes de guerra
Deutsche Welle
Em visita a cidades destruídas nos arredores de Kiev, secretário-geral da ONU, António Gueterres, classificou conflito como “absurdo” e defendeu que o Tribunal Penal Internacional conduza investigação.O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou nesta quinta-feira (28/04) o conflito na Ucrânia como um “absurdo” e defendeu uma investigação sobre possíveis crimes de guerra cometidos pela Rússia no país.
Em visita aos arredores de Kiev, ele disse que pensou na própria família ao observar a destruição em Bucha, Irpin e Borodianka, três das cidades mais atacadas pelas forças russas no entorno da capital ucraniana.
Em Bucha – que se tornou um símbolo das atrocidades da guerra depois de terem sido descobertos centenas de cadáveres espalhados nas ruas após a retirada das tropas russas – Guterres defendeu uma investigação do Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, pedindo a cooperação de Moscou.
“Quando vemos este lugar horrível, vemos como é importante ter uma investigação completa e estabelecer responsabilidades”, disse. “Apelo à Rússia para que concorde em cooperar com o Tribunal Penal Internacional”, acrescentou.
Ao passar por edifícios em ruínas em Borodianka, Guterres disse que lembrou da própria família. “Imagino a minha família numa destas casas destruídas e escurecidas. Vejo as minhas netas correndo em pânico”, afirmou. “Uma guerra no século 21 é um absurdo, nenhuma guerra é aceitável no século 21”, completou, destacando que “o pior dos crimes é a própria guerra”.
Guterres seguiu depois para Irpin, onde os combates entre as forças russas e ucranianas foram particularmente sangrentos. “Todo mundo deve se lembrar sempre de uma coisa: em qualquer guerra, são sempre os civis que pagam o preço mais alto”, disse, em frente a um prédio de apartamentos parcialmente destruído pelos bombardeios russos.
O secretário-geral da ONU chegou à Ucrânia na quarta-feira, depois de uma visita a Moscou, onde se reuniu com o presidente, Vladimir Putin, e pediu que ele coopere com a ONU para permitir a retirada de civis das áreas bombardeadas, sobretudo no leste e sul da Ucrânia, onde as forças russas concentram agora a sua ofensiva. Nesta quinta-feira, estava previsto encontro com o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.
Esta é a primeira visita do secretário-geral das Nações Unidas à Ucrânia desde o início do conflito e acontece numa altura em que Guterres tem sido alvo de críticas pela sua passividade em tomar medidas concretas para travar a guerra.
Terceiro mês de guerra
Com o conflito agora entrando em seu terceiro mês, Kiev admite que as forças russas estão obtendo ganhos no leste, capturando uma série de aldeias na região de Donbass.
A primeira fase da invasão da Rússia não conseguiu tomar Kiev e derrubar o governo de Zelenski, depois de encontrar forte resistência ucraniana, reforçada com o apoio de armas ocidentais.
Desde a retirada das tropas russas do entorno de Kiev, a campanha se concentrou em capturar o leste e o sul do país, usando cada vez mais mísseis de longo alcance contra o oeste e o centro da Ucrânia.
O ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksiy Reznikov, admitiu que o país enfrenta “semanas extremamente difíceis”, enquanto Moscou tenta “infligir o máximo de dor possível”.
Já o Ministério da Defesa da Rússia informou nesta quinta-feira que as forças russas destruíram dois depósitos de armas e munições no leste e no sul da Ucrânia, com “mísseis de alta precisão”.
Nos últimos dias, a Rússia também tem como alvo armas fornecidas pelo Ocidente, à medida que os Estados Unidos e a Europa atendem cada vez mais ao pedido de Zelenski por um poder de fogo mais pesado.
Ameaça de ataque nuclear
Em um discurso desafiador na quarta-feira, Putin disse que se as forças ocidentais intervirem na Ucrânia e criarem “ameaças inaceitáveis”, enfrentarão uma resposta militar “rápida como um relâmpago”.
“Temos todas as ferramentas para isso, que ninguém mais pode se gabar de ter”, disse, referindo-se implicitamente aos mísseis balísticos e ao arsenal nuclear de Moscou.
O Kremlin reiterou as advertências nesta quinta-feira, classificando as entregas de armas ocidentais como perigosas para a segurança europeia.
Embora os aliados ocidentais continuem receosos de serem atraídos para a guerra com a Rússia, aumentaram o apoio militar a Kiev, já que a Ucrânia manteve sua feroz resistência.
Em seu impasse econômico com o Ocidente, a Rússia cortou na quarta-feira o fornecimento de gás para a Bulgária e a Polônia, países membros da União Europeia (UE) e da Otan. Bruxelas alertou que não vacilará em seu apoio a Kiev, acusando o Kremlin de tentativa de “chantagem”.
Os dois países agora estão recebendo gás dos vizinhos da UE, já que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prometeu uma resposta “imediata, unida e coordenada”.
Com o bloco de 27 estados-membros, que depende do gás da Rússia, lutando para diversificar suas fontes de energia, ela destacou que “a era dos combustíveis fósseis russos na Europa chegará ao fim”.
As tensões também aumentaram na Transnístria, região separatista da Moldávia que faz fronteira com o sudoeste da Ucrânia. Separatistas pró-Rússia alegaram que tiros foram disparados na quarta-feira do outro lado da fronteira em direção a uma vila que abriga um depósito de armas russo depois que drones sobrevoaram a Ucrânia.
Texto reproduzido do site: istoedinheiro.com.br
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