Legenda da foto: Genivaldo de Jesus Santos é submetido a um fumacê que ao IML atesta tê-lo matado
Publicação compartilhada do site JLPOLÍTICA, de 26 de maio de 2022
Coluna APARTE, por Jozailto Lima*
Agentes da PRF quiseram fazer de Genivaldo de Jesus Santos um George Floyd à sergipana. Deplorável!Compartilhar
A nenhum de nós que transitamos, vivemos e respiramos é possível assistir ao assassinato em plena via pública da cidade de Umbaúba do cidadão Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, por três policiais rodoviários federais lotados aqui em Sergipe sem se horrorizar. Sem se indignar ao máximo.
Porque nada vezes nada justifica aquela morte. Nada justifica, sobretudo, a ação truculenta de três homens públicos contra um cidadão comum, desarmando e clinicamente atestado como portador de esquizofrenia.
Mais ainda: não há como se justificar o condimento nazifascista de sacudir uma pessoa amarrada pelos pés e pelas mãos no porta-malas de uma viatura da PRF, deixar apenas os pés de fora, baixar a tampa sobre as pernas e abrir um gás asfixiante contra ela.
A intenção era mesmo a de matá-lo? Claro: só pode. Ninguém acalma ninguém sob um jato de fumaça - seja lá de que origem for ela - e ainda mais em um local fechado.
Não é sem causa que o Instituto Médico Legal de Sergipe atesta que Genivaldo de Jesus Santos morreu como consequência de uma asfixia mecânica e por insuficiência respiratória aguda. São chocantes, na cena, os jatos de fumaça sobre ele e os seus gritos de desespero. Mais, ainda, os gritos e palavrões dos PRFs momentos antes, durante a abordagem.
Ora, diante de tudo isso só nos resta a perplexidade insanável de saber que os agentes da PRF são pessoas bem concursadas, supostamente bem preparadas, bem pagas (com o meu e o seu dinheiro) e jamais poderiam agir com tamanho despreparo contra a vida de alguém.
Como agentes públicos, eles devem saber que ninguém é criminoso apenas por estar conduzindo um veículo sem a devida documentação - origem da abordagem à vítima.
Como agentes públicos, lhes faltou o mínimo preparo para saber como lidar com uma pessoa com o diagnóstico de esquizofrenia, para quem o mínimo de espanto pode resultar na máxima perturbação, nas mais variadas alucinações e em múltiplos delírios.
E não foi por falta de aviso de que Genivaldo era pessoa assim, esquizofrênica. Na cena do assassinato, um sobrinho dele alertava aos policias aos gritos de que ele era um esquizofrênico. Havia inclusive no bolso da vítima uma cartela da medicação que usava.
De modo que essa ação insana, inconsequente e desmedida dos três membros da PRF nos coloca cara a cara com uma dúvida atroz: afinal, no centro daquela cena dantesca, quem de fato era mesmo o esquizofrênico?
Era o cidadão Genivaldo de Jesus Santos, devidamente diagnosticado portador dessa síndrome, dessa doença, ou os três assassinos que passaram pelos rigores dos psicotestes ao ser chamados para uma carreira pública?
Ao ver as cenas desde o chão, onde é imobilizado com joelhadas no pescoço até o coquetel de fumaça ao qual é submetido Genivaldo de Jesus Santos, parece estar patente que os agentes da PRF queriam gerar em solo sergipano uma espécie de George Floyd, o negro americano que foi assassinado por estrangulamento pelo policial branco Derek Chauvin no dia 25 de maio de 2020.
De Minneapolis, a imagem de Derek Chauvin ajoelhado sobre o pescoço de Floyd durante uma abordagem por ele supostamente usar uma nota falsificada de US$ 20 em um supermercado correu mundo e chocou meia humanidade. Mas parece que não serviu de exemplo.
O caso George Floyd, infelizmente, veio renascer na simplória Umbaúba sergipana e contra a vida do pacato e anônimo cidadão Genivaldo de Jesus Santos. Óbvio: ele não merecia aquilo. A esposa e a filhinha dele não mereciam aquilo.
Sergipe certamente não gostaria de ir parar no noticiário do mundo a partir dessa máxima mácula. A PRF, também por óbvio, não precisava agir tão atabalhoadamente desumana assim.
Portanto, não é possível que tanta iniquidade não nos sacuda e não nos tire do chão das nossas indiferenças diárias. É preciso, com urgência, reeducar a polícia e os policiais para abordar pessoas pensando em preservar a vida delas e não em oferecer a morte como uma opção compulsória.
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* É jornalista há 39 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. Colaboração/Tanuza Oliveira.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 26 de maio de 2022
ResponderExcluirPRF admite uso de spray de pimenta e gás; policiais foram afastados
Os policiais rodoviários federais envolvidos na abordagem que resultou na morte de um homem de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, no município de Umbaúba, em Sergipe, confirmaram no Comunicado de Ocorrência Policial, que utilizaram spray de pimenta e gás lacrimogêneo durante a ocorrência. O documento foi publicado em uma reportagem do The Intercept Brasil, que também divulgou os nomes dos envolvidos. A PRF informou que instaurou procedimento disciplinar e que os policiais foram afastados.
No documento, os policiais relatam que Genivaldo foi abordado porque conduzia uma moto sem capacete. Ele também teria desobedecido à ordem de colocar as mãos na cabeça e abrir as pernas e “a todo o momento passava a mão pela cintura e pelos bolsos”.
No Comunicado de Ocorrência, os policiais disseram ainda que devido à “reiterada desobediência e resistência do indivíduo, que passou a se debater e se opor violentamente contra os policiais, a equipe necessitou utilizar técnicas de imobilização, sem êxito, evoluindo para o uso das tecnologias de menor potencial ofensivo, com o uso de espargidor de pimenta e gás lacrimogêneo, únicas disponíveis no momento”.
Algum tempo depois, conforme relatos apresentados no documento, Genivaldo foi algemado e contido, mas ao ser colocado no compartimento de presos da viatura, novamente resistiu, se debateu e deu chutes, sendo necessário mais uma vez o uso das tecnologias.
Os policiais disseram também que abriram o compartimento para Genivaldo se acalmar e que, logo depois, consciente, ele se posicionou sentado para condução à delegacia. Conforme os policiais, durante o trajeto, ele passou mal, foi socorrido e levado a um hospital, onde faleceu devido a um mal súbito.
A PRF não divulgou os nomes dos policiais, mas disse que instaurou processo disciplinar para elucidar os fatos e que os envolvidos foram afastados das atividades de policiamento. A PRF afirmou também que está comprometida com a apuração inequívoca das circunstâncias e colaborando com as autoridades responsáveis pela investigação.
Entenda o caso
Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, morreu após uma abordagem da PRF, no município sergipano de Umbaúba. A ação foi filmada por populares e as imagens mostram o momento em que o homem é imobilizado e colocado no porta-malas da viatura da PRF. Nos vídeos, também é possível visualizar a presença de uma fumaça branca no porta-malas veículo. Um parente, que presenciou a ação, afirmou que explicou aos policiais que o homem possuía transtornos mentais. O Instituto Médico Legal (IML) divulgou que Genivaldo morreu devido à asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda.
A PRF alegou que o homem resistiu ativamente e que, em da razão da sua agressividade, foram empregados técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo. Segundo a PRF, um procedimento disciplinar foi aberto para averiguar a conduta dos policiais envolvidos.
A Polícia Federal disse que vai investir o caso. Já o Ministério Público Federal em Sergipe (MPF/SE) abriu procedimento para acompanhar as investigações.
A Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe (OAB/SE) expediu ofício à PRF em Sergipe, sugerindo o afastamento imediato dos policiais rodoviários envolvidos e solicitando, em caráter de urgência, uma reunião no sentido de envidar esforços para elucidar os fatos.
Texto reproduzido do site: infonet.com.br