Lambes trazem mensagens contra o preconceito em Aracaju
Foto: Demétrius Oliveira/G1
Publicado originalmente no site G1 Globo, em 04 de abril de 2019
Estudantes usam 'lambe-lambes' para combater preconceitos em
Aracaju
Portões de casas, muros abandonados e paredes em bares da
cidade servem de plano de fundo para a ação.
Por Demétrius Oliveira, G1 SE
Há cerca de três meses ruas e estabelecimentos privados em
Aracaju têm recebido uma intervenção artística diferente. Duas estudantes de
publicidade estão colando em postes, muros e paredes, cartazes conhecidos como
'lambe-lambe', com mensagens contra diversos tipos de preconceito.
Beatriz Sotero, que é estudante de publicidade e tem 21
anos, disse que ideia surgiu pouco antes das eleições. “Comecei a ver como o
discurso de ódio e violência estava crescendo e como as pessoas estavam
passando pano por cima das coisas e justificando coisas sem justificativas. Eu
achava relevante trazer o debate e é muito mais conversar sobre o assunto,
entender o motivo de ‘passar o pano’. A ideia dos lambes veio muito de
referências e pelo fato de eu ter feito arquitetura e perceber a importância de
levar isso para a cidade”, contou ela.
Com a ideia e parte do projeto, a Beatriz encontrou a
Thaissa Tupinambá, que também é estudante de publicidade e tem a mesma idade, e
formatou o restante do projeto e toda a ideologia por trás da ação. Neste
momento surgiu o 'Pare de Passar Pano'. Imagens que buscam combater o
preconceito racial, sexual e estético já foram coladas em alguns pontos da
capital. Os muros e postes de Aracaju recebem a ação desde fevereiro deste ano.
Estudantes tiveram a ideia de lambes que trazem mensagens
contra o preconceito em Aracaju Foto: Tito Givigi Matos/Divulgação
“As frases na maioria são de coisas que a gente já viu e
ouviu. Somos nós mesmos que bancamos, imprimimos e colamos. A primeira vez que
a gente colou foi em uma festa de publicidade. Colamos em alguns muros, postes
e um portão, mas por conta da pouca iluminação e também com a distração gente
não prestou atenção. Mas tiramos fotos e publicamos em um perfil na rede
social. Foi aí que começou a ter repercussão”, contou Thaissa Tupinambá,
co-idealizadora do projeto.
A ideia, segundo elas, começou tímida e tomou grandes
proporções de forma rápida. A resposta das pessoas até agora tem sido muito
positiva para elas. O projeto já chegou a diversas partes do país.
“Nossa ideia inicial era colar em lugares públicos para
chamar mais atenção. O que nos surpreendeu foi que muita gente do Brasil pediu
os lambes e perguntaram como poderiam colar na cidade delas e ficamos sem saber
o que fazer porque não imaginávamos que isso iria acontecer. Até uma prefeita
de uma cidade no Ceará entrou em contato para colar na cidade dela. Também já
fizemos uma segunda leva e estamos colando em locais particulares. Começamos a
receber alguns relatos também das pessoas que já passaram por algum tipo de
preconceito e estamos pensando em utilizar algumas dessas frases em novos
lambes”, disse Thaissa.
Os 'lambe-lambe' são totalmente custeados por elas. As
mensagens são coladas com uma mistura de cola líquida e água. E as frases, na
maioria, representam coisas que elas já viram ou ouviram.
Lambes trazem mensagens contra o preconceito em Aracaju
Foto: Tito Givigi Matos/Divulgação
A gente sabe que é um assunto que deve ser falado, mas que
as pessoas acabam não falando por estarem acostumadas com isso. Achamos que só
as pessoas que vivem isso iam se incomodar e se identificar, mas várias pessoas
se engajaram com o projeto. Não sabíamos que ia ser tão grande, mas está sendo
incrível. (Thaissa Tupinambá)
Além disso, os lambes são uma forma de levar uma discussão
para as ruas e gerar conversa em torno do assunto, questionando assim,
situações que estão enraizadas na sociedade.
‘A ideia dos lambes foi ser democrático e para várias
pessoas terem acesso. Nada mais democrático do que colar nas ruas. Como são bem
coloridos a gente pensou também dar uma cor a lugares mais neutros e sem cores.
Vemos muito mais propagandas nas ruas do que lambes combatendo algo. A gente
sempre busca colar eles juntos para ter uma maior visibilidade’, falou Thaissa.
Elas contam que as mensagens são de situações vistas ou
vividas por elas
Foto: Demétrius Oliveira/G1
Aos sábados e domingos, Thaissa e Beatriz selecionam lugares
e iniciam a colagem dos lambes na capital sergipana. Portões de casas, muros
abandonados e paredes em bares da cidade servem de plano de fundo para a ação.
“Os lambes são uma maneira de tornar claro o que não pode
ser visto mais como natural. Tomar a atitude de fingir que não ouviu ou ‘deixar
quieto’ ajuda a naturalizar comportamentos que atingem diariamente a vida de
mulheres e da comunidade LGBTQ", disse Beatriz Sotero.
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com
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