quinta-feira, 28 de março de 2024

CASO CLARINHA > Paciente em coma e sem identificação por 24 anos

Legenda da foto: Clarinha ficou 24 anos em coma e sem identificação num hospital em Vitória, Espírito Santo — (Crédito da foto: TV Gazeta).

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO ES, de 16 de março de 2024 

Clarinha: Quem era a paciente que ficou em coma e sem identificação por 24 anos em Vitória

Nome verdadeiro é apenas uma das dúvidas sobre a mulher, que possui marca de cesariana e pode ter filho vivo. Dezenas de pessoas chegaram a fazer DNA, mas nenhum parente foi localizado até hoje.

Por Ana Elisa Bassi, g1 ES

Morre Clarinha, paciente em coma há 24 anos em Hospital da PM

Durante os 24 anos em que esteve internada em hospitais de Vitória, a paciente Clarinha deixou dúvidas sobre toda a sua história. Além do nome, nunca houve informações sobre idade, local onde morava e se tinha parentes no Espírito Santo ou em outro estado. Desde o primeiro momento, a equipe médica teve esperança de encontrar algum parente ou até filho de Clarinha, já que ela tinha uma cicatriz de cesariana, mas isso não aconteceu. A estimativa é que, em 2024, Clarinha tivesse entre 40 e 50 anos.

"Pode ser que ela tenha um filho que esteja vivo. Essa marca de cesárea realmente reforça muito a possibilidade de alguém da família identificá-la. Eu gostaria muito disso", falou o médico tenente-coronel Jorge Potratz, em 2016, quando o caso ganhou repercussão. Entretanto, nenhum parente ou amigo a visitou até hoje.

O médico que cuidou de Clarinha acredita que ela tenha morrido com 47 anos de idade.

Neste mesmo ano, depois que uma reportagem exibida no Fantástico foi ao ar, mais de 100 famílias procuraram o Ministério Público para identificar Clarinha como uma possível parente desaparecida.

Desse total, 22 casos chamaram mais atenção, pelas fotos ou pela similaridade dos dados próximos ao perfil da mulher internada. Exames de DNA foram feitos e digitais da mulher foram colhidas pela Polícia Federal, mas não houve compatibilidade.

Clarinha morreu nesta quinta-feira (14), em Vitória, ao passar mal após uma broncoaspiração. Ela foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória. Foi socorrida por uma ambulância sem documentos, mas chegou ao hospital já desacordada.

Em 2021, uma equipe de papiloscopistas da Força Nacional de Segurança Pública usou um processo de comparação facial e fez buscas em bancos de dados de pessoas desaparecidas com características físicas semelhantes às da mulher. A suspeita é que ela seria uma criança desaparecida em 1976 em Guarapari, que esteve na cidade para uma viagem em família. Mas depois a possibilidade também foi descartada e o caso nunca foi solucionado.

Durante todos esses anos, diariamente, a paciente recebeu a visita de médicos e enfermeiros. O médico tenente-coronel Jorge Potratz foi o responsável pela paciente e seguiu com os cuidados mesmo depois de aposentado. Foi ele quem escolheu o nome Clarinha.

“A gente tinha que chamar ela de algum nome. O nome não identificada é muito complicado para se falar. Como ela é branquinha, a gente a apelidou de Clarinha”, disse Potratz.

Internada há mais de 20 anos no HPM, Clarinha não é a menina que desapareceu no ES em 1976

Potratz auxiliou a mulher com produtos básicos para os cuidados dentro do hospital, que não são oferecidos para paciente na situação em que ela se encontrava. Cremes, produtos de higiene, limpeza, fraldas eram adquiridos pelo coronel que custeava as compras.

Morte após 24 anos

Nesta quinta-feira (14), a morte de Clarinha foi confirmada. A paciente passou mal ainda pela manhã, teve uma broncoaspiração e não resistiu.

O coma da paciente não identificada era considerado elevado. “A gente classifica o coma em uma escala de três a quinze pontos. Quinze é o paciente acordado e lúcido e três é o coma mais profundo. Ela não tem nenhum contato com a gente e por isso a gente considera um coma de sete para oito”, explicou o médico aposentado.

Clarinha foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, no Centro de Vitória. A mulher foi socorrida por uma ambulância, mas não possuía documentos, chegou ao hospital já desacordada e sem ser identificada.

Inicialmente, Clarinha foi levada para o Hospital São Lucas. Um ano depois, foi transferida para o Hospital da Polícia Militar, também na capital, onde permaneceu até o final da vida.

Texto e imagem reproduzidas do site: g1 globo com/es/espirito-santo

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Legenda da foto: Clarinha ficou internada por 24 anos em hospital de Vitória e foi cuidada pelo médico Jorge Potratz — (Crédito da foto: Reprodução/ TV Gazeta)

Publicação compartilhada do site G1 GLOBO ES, de 15 de março de 2024 

Médico que cuidou de Clarinha por 24 anos não quer que ela seja enterrada como indigente: 'É uma perda pra todos nós'

Clarinha recebeu esse nome pelo médico que cuidou dela ao longo desses anos. Mesmo aposentado, Jorge Potratz seguia visitando a paciente no hospital, em Vitória. Ela estava em estado vegetativo desde 2000 e nenhum parente foi encontrado.

Por Juirana Nobres, g1 ES

Morre Clarinha, paciente em coma há 24 anos em Hospital da PM

O médico que cuidou da paciente Clarinha, que não tinha registro oficial e morreu nesta quinta-feira (14) após ficar 24 anos internada em coma em uma UTI de hospital, disse que não quer que a paciente seja internada como indigente. Emocionado e triste, o tenente-coronel Jorge Potratz disse que a sensação é que seu trabalho não foi concluído com sucesso, uma vez que ao longo desses anos não foi possível localizar familiares da paciente.

O médico, que mesmo aposentado continuou cuidando de Clarinha, vai solicitar à Prefeitura de Vitória que ela seja enterrada em um cemitério municipal por ter criado grande vínculo afetivo devido aos anos que se dedicou aos cuidados da paciente.

"Infelizmente, a sensação que tenho é que o meu objeto não foi concluído com sucesso. Por tantas lutas que tivemos em duas décadas, mas Deus sabe de todas as coisas e ele está no comando", desabafou Jorge Potratz.

A mulher foi atropelada no Dia dos Namorados, em 12 de junho de 2000, sem portar qualquer documento de identificação. O caso ganhou repercussão nacional após uma reportagem do Fantástico, exibida em 2016. Desde então, várias famílias do Brasil se mobilizaram para fazer exames de DNA e saber se a paciente era parente ou não.

Morre Clarinha, paciente internada em coma há 24 anos em hospital do ES

O médico tenente-coronel Potratz se aposentou em 2017 e, ainda assim mantinha visitas frequentes. Ele disse que foi comunicado pela equipe médica que atua no Hospital da Polícia Militar (HPM), na manhã de quinta, de que a paciente estava muito debilitada após uma broncoaspiração, que é a entrada de substâncias estranhas, como alimento ou saliva, na via respiratória. Durante a noite, a paciente não resistiu.

"Recebi com muito pesar a notícia. Imediatamente, fui ao hospital conversar com a equipe. É uma perda para todos nós. Tenho sentimento de apego, de carinho, de humanidade mesmo. Foi uma paciente que marcou a minha vida inteira", disse.

Enterro digno

O médico aposentado disse que em toda a jornada da paciente - foram 24 anos internada na UTI - tentou dar dignidade, por mais que Clarinha fosse desconhecida oficialmente.

"Clarinha era cuidada com muito amor por toda equipe do hospital e por lá conseguimos garantir sua dignidade. E é assim que deve continuar. Espero que seja enterrada em um local próprio e identificada como Clarinha. Não quero que ela seja enterrada como indigente. Esse processo não deve ser de um dia para o outro, mas vou estar à frente disso", explicou.

Potratz disse que o corpo da paciente foi levado para o Departamento Médico Legal (DML) de Vitória, procedimento incomum para casos assim. Segundo o médico, geralmente, um paciente sem registros em hospitais não passam pelo DML, os corpos são liberados na unidade hospitalar mesmo.

O tenente-coronel contou que vai ao DML e se responsabilizará por todas as burocarcias necessárias. Disse, ainda, que vai à Prefeitura de Vitória solicitar que Clarinha seja enterrada em um cemitério municipal.

"Gostaria que ela tivesse uma lápide, onde as pessoas, que assim desejarem, pudessem ir fazer uma oração. Precisamos ter mais humanidade com as pessoas e continuar tentando dar dignidade à Clarinha", enfatizou o médico.

Entenda o caso "Clarinha"

Clarinha morreu na noite desta quinta-feira (14) Clarinha, uma mulher que, em 2000, foi encontrada atropelada sem registro oficial e ficou internada em coma por 24 anos em um hospital de Vitória. A informação é do coronel Jorge Potratz, médico que cuidou da paciente durante todos esses anos.

Clarinha passou mal ainda pela manhã, teve uma broncoaspiração e não resistiu. O caso da paciente "misteriosa" ganhou repercussão. A mulher estava internada em estado vegetativo no Hospital da Polícia Militar (HPM), em Vitória. Nenhum parente ou amigo a visitou em todos esses anos.

“A gente tinha que chamar ela de algum nome. O nome 'não identificada' muito complicado para se falar. Como ela é branquinha, a gente a apelidou de Clarinha”.

A equipe considerava o coma da paciente elevado. "A gente classifica o coma em uma escala de três a quinze pontos. Quinze é o paciente acordado e lúcido e três é o coma mais profundo. Ela não tem nenhum contato com a gente e por isso a gente considera um coma de sete para oito", explicou o médico na época.

Enterro de Clarinha

Como não tem documentos oficiais, o corpo de Clarinha pode ser sepultado como "indigente" após passar pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO). No entanto, a "família" formada pela equipe médica do HPM vai atuar para evitar essa situação e possibilitar um sepultamento digno a quem por anos recebeu uma atenção especial de todos eles.

Assim como buscaram dar uma vida digna e respeitosa a ela ao longo dos anos, agora a luta é por um enterro mais humano. Ainda não há uma definição do que será feito, mas os planos agora são não deixar ela ser enterrada em um lugar qualquer.

Mistério sobre identidade da paciente

Depois da reportagem exibida no Fantástico, mais de 100 famílias procuraram o Ministério Público para identificar Clarinha como uma possível parente desaparecida. Desse total, 22 casos chamaram mais atenção, pelas fotos ou pela similaridade dos dados próximos ao perfil da mulher internada. 

Depois de uma triagem mais detalhada, aponta o MPES, quatro casos foram descartados, devido à incompatibilidade de informações ou pelo fato de as pessoas procuradas já terem sido encontradas. O Ministério Público dividiu as 18 pessoas restantes em dois grupos para a realização dos exames de DNA. No entanto, os resultados mostraram-se incompatíveis para traços familiares.

Texto e imagem reproduzidos do site: g1 globo com/es/espirito-santo

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