segunda-feira, 15 de outubro de 2018

ARACAJU, MORADOR DE RUA - Projeto 'Corrente do Bem Aju'

Publicado originalmente no site G1 SE., em 06/10/2018

Serviço humanitário ajuda a resgatar autoestima de moradores em situação de rua

Projeto 'Corrente do Bem Aju' distribui alimentos, produtos de higiene pessoal e banho nas ruas de Aracaju.

Por Anderson Barbosa, G1 SE — Aracaju

Equipe ajuda a cuidar da higiene pessoal dos moradores de rua de Aracaju
Foto: Corrente do Bem

Nos grandes centros populacionais do país é cada vez mais comum observar a presença de grupos formados por pessoas abaixo da linha de pobreza. Em 2015, a população em situação de rua nas capitais brasileiras somava 101.854 de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

A situação em que se encontram muitas vezes os colocam na condição de nômades. A cada noite escolhem um lugar para descansar e no dia seguinte divagam em buscar de uma dignidade que esbarra na cegueira social.

Sem casa, muitas vezes longe do mercado de trabalho e das famílias, elas tentam sobreviver em meio as incertezas de ser um cidadão em situação de rua. Gente que encontra na ação de voluntários a esperança de um amanhã menos sofrido. Em Aracaju são cerca de 200 pessoas, segundo a prefeitura, vivendo nesta situação nas ruas da capital.

Voluntários também fazem a distribuição de café da manhã — Foto: Corrente do Bem

Há 4 anos, seis amigos se reuniram na capital de Sergipe e criaram o projeto ‘Corrente do Bem Aju’, entre eles a professora Jucélia Brasil Gomes de Oliveira. A ideia surgiu quando a filha de uma voluntária descobriu que Papai Noel era um personagem fictício e, na explicação dada pelos pais, foi dito que as crianças carentes não recebiam presente porque os pais não tinham condição financeira.

“Letícia [a criança] assim resolveu doar todos os seus brinquedos, bonecas e pelúcias. Daí a ideia foi se espalhando e chegando mais brinquedos, lanches e sacolinhas. A ‘Corrente do Bem AJU’ nasce no natal de 2014 no Bairro 17 de Março. Os projetos são planejadas por Carla (fisioterapeuta) Christine (fisioterapeuta), Denise (empresária), Iracema (lar), Léa (funcionária pública) , Socorro (enfermeira) e Telma (empresaria) e depois de prontos são publicados nas redes e aberto a voluntários”, revela Jucélia.

Depois disso, a cada quinze dias eles passaram a se reunir e levar para rua sopa, pão, café e suco. Além do alimento, eles entregam outras doações como lençóis, roupas e material de higiene pessoal.

Morador em situação de rua — Foto: Corrente do Bem

“A vida na rua é um mundo desconhecido. Já vivemos morte de moradores, resgate chamando SAMU, já salvamos vidas, resgate de drogados para centro de reabilitação, despachamos receita médica, já pagamos passagem rodoviária, demos conselhos e cada vivência vem com sua história marcante e inesquecível para nós”, conta.

A aproximação com essa população leva ao conhecimento das histórias pessoais e a muitas descobertas. É assim que entendem que nem sempre a maior fome é a de alimento, mas a da alma, de serem vistos como peça importante dentro da engrenagem social.

“Entramos na vida deles como muito respeito, caridade e sem julgamentos. Oferecemos o que os falta e a receptividade é de muita gratidão e desejo de bênçãos. Foge de satisfação o serviço humanitário, não se trata de ego e sim ver Jesus no próximo. É por amor. É só amor”, assegura Jucélia.

Tenda do projeto 'Corrente do Bem' — Foto: Corrente do Bem

Banho nas ruas

Quando o dia amanhece no centro comercial de Aracaju é possível encontrar dezenas de pessoas espalhadas pelas calçadas, em cima de papelões que servem como colchões e cobertores. A sujeira das ruas, o odor dos esgotos e até mesmo os insetos que circulam entre eles, só aumenta os riscos de contaminação e doenças.

Em meio a este cenário, muitos revelam desejos simples, mas que não fazem parte do cotidiano. “Bom é tomar um banho, né? Hoje mesmo ainda não tomei”, revela Ginaldo dos Santos, que há mais de 20 anos vive na região.

Banheiro improvisado montado nas ruas de Aracaju — Foto: Corrente do Bem

Desejo simples que os voluntários do ‘Corrente do Bem Aju’ ouviram e resolveram realizar. A cada três meses eles fazem o ‘Banho do Bem’ onde levam às ruas um caminhão-pipa, com uma adaptação, que serve como chuveiro.

“Tentamos levar a eles um pouco de cuidado diante todo abandono que cerca suas vidas. É um dia em que eles serão servidos” - Jucélia Brasil, voluntária
O trabalho está na quarta edição que vai ocorrer no dia 28 de outubro. Assim como nas outras ações, vão distribuir toalha, kits de higiene pessoal, roupa limpa, corte de cabelo, barba e unhas, além de atendimento de primeiros socorros e café da manhã.

População de rua faz refeição — Foto: Corrente do Bem

“Falar de dificuldades para a realização dos projetos é falar de fé. Quatro anos de trabalho social humanitário e tudo acontece. Graças a Deus temos amigos e parceiros que dizem sim quando é preciso ouvir o sim. Graças a Deus muitas pessoas acolhem nossas campanhas e juntam-se a nós pelo propósito. Só a fé e o amor explicam”, afirma.

O trabalho conta com o apoio da população através de doações de material não perecível e a parte do café é ficam com a responsabilidade os integrantes do grupo. Quem quiser contribur com o projeto pode se dirigir aos pontos de coleta:

Restaurante Cumbuca - Rua Pacatuba, 113 Centro;

Renovar Oficina em Ed. Especial - Rua Dom José Thomaz, 573, São José, em Aracaju.

Morador de rua toma café nas ruas do Centro de Aracaju — Foto: Corrente do Bem

Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com/se

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