Serviço humanitário ajuda a resgatar autoestima de moradores
em situação de rua
Projeto 'Corrente do Bem Aju' distribui alimentos, produtos
de higiene pessoal e banho nas ruas de Aracaju.
Por Anderson Barbosa, G1 SE — Aracaju
Equipe ajuda a cuidar da higiene pessoal dos moradores de
rua de Aracaju
Foto: Corrente do Bem
Nos grandes centros populacionais do país é cada vez mais
comum observar a presença de grupos formados por pessoas abaixo da linha de
pobreza. Em 2015, a população em situação de rua nas capitais brasileiras
somava 101.854 de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A situação em que se encontram muitas vezes os colocam na
condição de nômades. A cada noite escolhem um lugar para descansar e no dia
seguinte divagam em buscar de uma dignidade que esbarra na cegueira social.
Sem casa, muitas vezes longe do mercado de trabalho e das
famílias, elas tentam sobreviver em meio as incertezas de ser um cidadão em
situação de rua. Gente que encontra na ação de voluntários a esperança de um
amanhã menos sofrido. Em Aracaju são cerca de 200 pessoas, segundo a
prefeitura, vivendo nesta situação nas ruas da capital.
Voluntários também fazem a distribuição de café da manhã —
Foto: Corrente do Bem
Há 4 anos, seis amigos se reuniram na capital de Sergipe e
criaram o projeto ‘Corrente do Bem Aju’, entre eles a professora Jucélia Brasil
Gomes de Oliveira. A ideia surgiu quando a filha de uma voluntária descobriu
que Papai Noel era um personagem fictício e, na explicação dada pelos pais, foi
dito que as crianças carentes não recebiam presente porque os pais não tinham
condição financeira.
“Letícia [a criança] assim resolveu doar todos os seus
brinquedos, bonecas e pelúcias. Daí a ideia foi se espalhando e chegando mais
brinquedos, lanches e sacolinhas. A ‘Corrente do Bem AJU’ nasce no natal de
2014 no Bairro 17 de Março. Os projetos são planejadas por Carla (fisioterapeuta)
Christine (fisioterapeuta), Denise (empresária), Iracema (lar), Léa
(funcionária pública) , Socorro (enfermeira) e Telma (empresaria) e depois de
prontos são publicados nas redes e aberto a voluntários”, revela Jucélia.
Depois disso, a cada quinze dias eles passaram a se reunir e
levar para rua sopa, pão, café e suco. Além do alimento, eles entregam outras
doações como lençóis, roupas e material de higiene pessoal.
Morador em situação de rua — Foto: Corrente do Bem
“A vida na rua é um mundo desconhecido. Já vivemos morte de
moradores, resgate chamando SAMU, já salvamos vidas, resgate de drogados para
centro de reabilitação, despachamos receita médica, já pagamos passagem
rodoviária, demos conselhos e cada vivência vem com sua história marcante e
inesquecível para nós”, conta.
A aproximação com essa população leva ao conhecimento das
histórias pessoais e a muitas descobertas. É assim que entendem que nem sempre
a maior fome é a de alimento, mas a da alma, de serem vistos como peça
importante dentro da engrenagem social.
“Entramos na vida deles como muito respeito, caridade e sem
julgamentos. Oferecemos o que os falta e a receptividade é de muita gratidão e
desejo de bênçãos. Foge de satisfação o serviço humanitário, não se trata de
ego e sim ver Jesus no próximo. É por amor. É só amor”, assegura Jucélia.
Tenda do projeto 'Corrente do Bem' — Foto: Corrente do Bem
Banho nas ruas
Quando o dia amanhece no centro comercial de Aracaju é
possível encontrar dezenas de pessoas espalhadas pelas calçadas, em cima de
papelões que servem como colchões e cobertores. A sujeira das ruas, o odor dos
esgotos e até mesmo os insetos que circulam entre eles, só aumenta os riscos de
contaminação e doenças.
Em meio a este cenário, muitos revelam desejos simples, mas
que não fazem parte do cotidiano. “Bom é tomar um banho, né? Hoje mesmo ainda
não tomei”, revela Ginaldo dos Santos, que há mais de 20 anos vive na região.
Banheiro improvisado montado nas ruas de Aracaju — Foto:
Corrente do Bem
Desejo simples que os voluntários do ‘Corrente do Bem Aju’
ouviram e resolveram realizar. A cada três meses eles fazem o ‘Banho do Bem’
onde levam às ruas um caminhão-pipa, com uma adaptação, que serve como
chuveiro.
“Tentamos levar a eles um pouco de cuidado diante todo
abandono que cerca suas vidas. É um dia em que eles serão servidos” - Jucélia
Brasil, voluntária
O trabalho está na quarta edição que vai ocorrer no dia 28
de outubro. Assim como nas outras ações, vão distribuir toalha, kits de higiene
pessoal, roupa limpa, corte de cabelo, barba e unhas, além de atendimento de
primeiros socorros e café da manhã.
População de rua faz refeição — Foto: Corrente do Bem
“Falar de dificuldades para a realização dos projetos é
falar de fé. Quatro anos de trabalho social humanitário e tudo acontece. Graças
a Deus temos amigos e parceiros que dizem sim quando é preciso ouvir o sim.
Graças a Deus muitas pessoas acolhem nossas campanhas e juntam-se a nós pelo
propósito. Só a fé e o amor explicam”, afirma.
O trabalho conta com o apoio da população através de doações
de material não perecível e a parte do café é ficam com a responsabilidade os
integrantes do grupo. Quem quiser contribur com o projeto pode se dirigir aos
pontos de coleta:
Restaurante Cumbuca - Rua Pacatuba, 113 Centro;
Renovar Oficina em Ed. Especial - Rua Dom José Thomaz, 573,
São José, em Aracaju.
Morador de rua toma café nas ruas do Centro de Aracaju —
Foto: Corrente do Bem
Texto e imagens reproduzidos do site: g1.globo.com/se
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