Publicado originalmente no site JLPolítica, em 14 de Nov de 2018
OPINIÃO - Riachão do Dantas, um berço de cultura bem além de
um bode
[*] Gilton Freire
Riachão do Dantas, aqui no Estado de Sergipe, é um município
da região Centro Sul que tem um povo trabalhador, com uma vocação para a
agropecuária, produzindo laranja, abacaxi, maracujá, fumo, mandioca, milho e
diversas outras culturas tanto de subsistência quanto para a comercialização.
Este município é um dos que se destacam na tradição de
criação de bovinos, tendo como destaque a pecuária de leite e corte, assim como
de equinos e animais de pequeno porte.
Riachão do Dantas chegou a ocupar posição de destaque no
aprimoramento da raça bovina Indubrasil, levando esses animais a exposições em
Sergipe e no Brasil e exportando para o mundo essa raça.
Em virtude da cultura de criações de pequeno porte, existem
muitos criadores de ovelhas e caprinos no município, e é aí que surge um animal
apelidado de Bode Bito, pertencente à propriedade do senhor Joel Araújo,
produtor que tem sua terra praticamente dentro da cidade.
Esse animal, o caprino Bito, passou a circular pelas ruas de
Riachão sem ser incomodado. Ele praticava, por seu instinto, algo diferenciado,
como acompanhamento de sepultamentos, visitação a padarias e ao comércio em
virtude de as pessoas darem-lhe algo para comer.
Consideremos isso tudo muito normal. No entanto, membros da
população informaram as emissoras de televisão em nível nacional esse
comportamento do animal e elas fizeram algumas matérias, o que tornou Bito
bastante conhecido e por consequência a nossa cidade bastante noticiada.
Aproveitando a força da mídia, em especial a nacional, com
destaque para a Rede Globo, o gestor municipal da época, Laelson Menezes, sem
qualquer consulta à população e ao Poder Legislativo, mandou fazer uma estátua,
uma peça de arte, do Bode Bito, e colocou na entrada da cidade em uma homenagem
ao animal e uma intenção de marcar um gol de placa em matéria de marketing para
a sua própria gestão.
Mas Laelson Menezes esqueceu que o município de Riachão do
Dantas tem grandes personalidades no campo literário, a exemplo dos escritores
Lourival Fontes, Arivaldo Fontes, Francisco Dantas, premiado internacionalmente
por suas obras, e muitos outros não menos importantes que contribuíram e
contribuem para o desenvolvimento intelectual do município, do Estado e da
nação.
Em virtude disso, a Câmara de Vereadores aprovou por nossa
iniciativa o Dia Municipal do Escritor Riachãoense, com datas e períodos para
realizações de seminários e palestras com a participação desses autores e
filhos da terra.
Em total desprezo à lei, o então gestor que colocou um bode
como símbolo para a cidade dos escritores jamais respeitou a decisão da Câmara,
e durante toda a gestão dele jamais comemorou o Dia dos Escritores
Riachãoenses, deixando claro que não o fez em virtude desses seminários não
terem a repercussão da mídia nacional antecipada como teve as intuitivas
peripécias do Bode Bito.
Na última semana, o gestor interino da cidade, vereador
Pedro da Lagoa, em virtude das realizações da festa da padroeira, Nossa Senhora
do Amparo, resolveu retirar a peça do Bode Bito e em lugar dela colocar a
imagem da santa.
Sem qualquer dúvida, entendo que o Bode Bito não representa
a grandeza do município e nem a do nosso povo para receber o destaque que
tinha. Folclore à parte, não somos a cidade do Bode Bito. Somos a cidade de um
povo trabalhador e intelectualmente merecedor de uma imagem positiva e
racional.
Ora, se não homenageamos os homens cultos, como nossos
ícones, como homenagear um bode, seja ele o Bito ou de qualquer nome? Jamais.
Ante as razões aqui expostas, sou totalmente a favor da retirada da
estatuazinha do Bode Bito da entrada da cidade de Riachão do Dantas. Além do
mais, mesmo entendendo ser o Estado laico, vejo como melhor representar a nossa
cidade com a imagem da sua padroeira, a Nossa Senhora do Amparo.
[*] É advogado.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
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